Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 15 Dezembro de 2001 parte III
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Em setembro, quando estive em São Paulo, divulgando o eu livro, um grupo de amigos me chamou para fazer uma deliciosa quirera.
Ai fui até um grande supermercado comprar os ingredientes básicos: quirera de milho, costelinha de porco, tomates e cheiro verde. Cheguei ao supermercado e fui direto ao setor de farináceos. Uma prateleira imensa, onde tinha tudo em forma de fubás, farinhas, grão, etc., mas a danada da quirera nem cheiro.
-Será que vende tanto assim, pensei comigo. Ao lado uma mocinha bem arrumada e ajeitada fazia a promoção dos produtos e viu minha situação. Com sua voz aveludada de paulistana me abordou, provocando um dialogo hilariante.
– Procurando alguma coisa, meu senhor? Posso ajudá-lo?
– Pode sim. Eu queira comprar quirera, mas não estou encontrando aqui.
– Quirela? O que é isso?
-Não minha filha. QUI-Re-RA, soletrei bem compassado. Explicando melhor, é um milho quebrado bem pequenininho, pra fazer comida.
-Ah? Quirera é isso. Pra fazer comida pra animais? Então é no setor de animais.
– E onde fica?
– É no nono corredor. Venha que eu te mostro. Chegando ao tal lugar. Uma profusão de produtos para todo tipo de bichos.
-Olha, aqui tem milho pra passarinho ,dessa mais fina. Essa média é para aves maiores e essa maior é pra cozinhar pra cachorros.
-É essa mesma que eu quero. Só que é pra gente comer e não animais.
– Mas, meu senhor, esse é um produto para animais, veja os rótulos das embalagens. Como o senhor vai comer isso?
-Olha aqui, minha filha, a gente faz um prato caipira deliciosa com isso. É só juntar umas costelinhas, que vou comprar ali no açougue, tempero, cheiro verde uns tomates e está pronto.
Nesse meio tempo, como todo paulistano gosta duma rodinha, umas cinco pessoas que estavam do lado, já ouviam a conversa interessados entraram no papo. Uma senhora de mais idade arriscou uma pergunta.
– Escuta moço, como é mesmo que se come isso?
Os outros se juntaram e eu expliquei tudo, novamente, com a mocinha do supermercado olhando, meio curiosa e espantada.
Um senhor mais refinado arriscou outra pergunta.
-Onde o senhor aprendeu isso?
Respondi rapidamente quem eu era, que tinha um livro editado sobre comidas típicas, etc. abri a bolsa e lasquei meu comercial.
Em poucos minutos vendi 5 livros, com a receita da quirerinha, para o “bicho homem”. Me despedi da mocinha e agradeci, deixando um lembrete preocupante.
-Acho que você deveria conversar com o gerente para colocar quirera no setor de alimentos.